Veja bem, a China não quer ser a sucessora dos Estados Unidos. Não é essa a intenção. A história da China mostra como é a concepção de mundo deles, como eles acham que as nações devem se levantar, se relacionar. Mas tem uma outra coisa que eu acho importante: a China aprendeu muito da lição ocidental. Por exemplo, no século 20, duas vezes a Alemanha esteve para levantar a cabeça e se tornar a primeira potência mundial e foi destruída. E o mesmo ocorreu com o Japão, que foi atingido pela bomba atômica.
Por isso a China insiste no conceito de multipolaridade, com princípios de coexistência pacífica, de respeito aos outros, um mundo de paz. São os princípios para reger as relações internacionais. A Índia também pratica isso. Na concepção do mundo multipolar, cada país tem seu papel: o Brasil, os Estados Unidos, a África do Sul, a Índia, o Japão, a União Europeia, a Rússia…
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Se tiver um conjunto de países que comecem a emergir juntos, isso vai criar uma correlação de forças para reformar a ONU e impedir uma guerra mundial. Eles sabem que quem se colocar contra os Estados Unidos pode se dar muito mal, e eles têm certeza de que precisam de mais uns 20 ou 30 anos de desenvolvimento para ter uma tecnologia própria. Então, convivem e trabalham com os outros.
Veja um exemplo que ilustra essa visão chinesa: na época do presidente Fernando Henrique, eles tinham condições de fazer satélites de sensoriamento remoto sozinhos, mas quiseram fazê-los junto com o Brasil. É um satélite para fotografar a extensão da terra, do seu país continental, para saber da questão da água, do desmatamento, dos recursos biológicos.
Se você contratar um serviço de um satélite americano para saber se tem petróleo na Amazônia, com certeza essa assessoria vai pegar esse trabalho, vai lá na Texaco e vai dizer: “Olha, eu fiz um levantamento aqui e quero saber o que digo para eles sobre a existência do petróleo. Quanto vocês me pagam?” Bem diferente da proposta chinesa que faz um trabalho conjunto.
O satélite saiu com anos de atraso porque o Brasil não pagava a parte dele. A China poderia ter pago a parte do Brasil, mas seria necessário educar o Brasil para pensar grande, fazer também do Brasil um polo de poder importante. Segundo eles, o mundo precisa ter vários atores, para que numa hora de crise a decisão não fique na mão de uma potência, que aponta o dedo e o outro não tem força para reagir. Tem que ter um diálogo numa mesa grande, com muita gente, com o mundo interligado.
A China não está copiando o modo de vida do ocidente?
De alguma forma, sim. Acho um problema a China de uma certa maneira copiar do ocidente elementos que são perniciosos. Um certo tipo de urbanização, essa coisa do automóvel, por exemplo. Usar o automóvel como transporte individual está se transformando numa excrescência. No Brasil estamos agravando esse problema. O carro é muito barato.
A pessoa não consegue financiamento para uma casa, mas consegue financiamento para um carro. Mas a poluição do automóvel esquenta o planeta, ele queima um combustível precioso que pode ser usado de várias maneiras mais nobres, como para criar fibras na petroquímica, para medicamentos…
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Além disso, o automóvel precisa de espaço para rodar, precisa de uma garagem em casa, de um estacionamento no serviço e um num local de comércio. Ele produz um dano gigantesco.
E uns dizem: “Mas e os empregos que ele gera?” Se os investimentos feitos no automóvel fossem feitos noutra área, gerariam muito mais empregos. Como se explica que os Estados Unidos, que têm tantos milhões de pontes de concreto, não resolveram