Quais são os entraves para uma educação emancipatória?

Sou educadora há 46 anos e formo professores na área de avaliação desde 1981. O que sempre me angustiou ao trabalhar com a questão da avaliação nas escolas foi perceber o anonimato dos alunos nas salas de aulas de qualquer segmento de ensino, a falta de conhecimento dos alunos pelos professores, ou melhor, dos alunos como pessoas, com conhecimentos próprios, experiências singulares, sentimentos, realidades socioculturais as mais diversas.

Ao avaliar, precisamos ser conscientes de que influenciamos pessoas, por vezes para uma vida inteira. Temos que retirar os alunos do anonimato das salas de aula e procurar conhecê-los em profundidade, abrindo espaço para o diálogo, o imprevisto, o improviso, sem tantas normas e determinações.

Para que isso ocorra, é preciso uma nova postura do professor: mais do que respeitar as diferenças dos alunos, ele precisa valorizar suas diferenças. Não há como termos na escola alunos iguais, que sigam os mesmos padrões, que entendam as coisas do mesmo jeito. Somos todos diferentes, mas a escola quer alunos diferentes? Os critérios são únicos, as provas são as mesmas, tudo é padronizado.

Podemos, ainda, ter esperança na escola e na educação?

Sim. Embora sendo conservadora, sendo rígida em seus processos, a escola ainda se mantém como um porto seguro dessa geração, cujas famílias apresentam hoje configurações tão instáveis, ou nas quais os pais às vezes convivem pouco tempo com os filhos.

É na escola que a criança e o jovem encontram um lugar estável, com adultos que estão sempre ali para atendê-los, o seu arrimo na vida. E deveriam encontrar muito mais, porque as escolas foram feitas para acolhê-los, para torná-los confiantes em si próprios, formá-los autônomos, críticos e criativos.

A avaliação mediadora tem por objetivo o acesso e a permanência dos alunos na escola, mas permanência atrelada a uma aprendizagem de qualidade. Nos países que avançaram em suas reformas educacionais, a educação básica é considerada um direito de crianças e jovens e um compromisso dos educadores em torná-la de qualidade. Nada justifica que a avaliação venha a ser um obstáculo nesse sentido, uma vez que as escolas foram criadas para promover moral e intelectualmente os alunos de forma plena, e essa deve ser a intenção primeira dos professores ao avaliar.

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