A concepção do direito à comunicação que defendemos tem basicamente a ver com a pessoa sair da posição de público e de consumidor, porque aí existe a relação de mercado. Sair da condição de receptor e se colocar na posição de produtor, de veiculador e de transmissor de comunicação.
Hoje se vive numa sociedade basicamente mediada pelos meios de comunicação. É por eles que recebemos informações, é através deles que formamos os nossos valores. Então é importante que o indivíduo se aproprie e entenda o que é a comunicação e possa se expressar nessa esfera pública. Para ser democrática, a comunicação precisa necessariamente que todos se expressem. O jovem tem uma particularidade: ele tem uma facilidade de lidar com a tecnologia, é um casamento que dá muito certo.
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Mas o jovem precisa ser crítico diante dessas tecnologias?
Sim, o jovem se apropria facilmente de toda a tecnologia que vem aparecendo. É preciso que se aproprie de uma maneira crítica. É preciso que o jovem entenda por que determinada tecnologia está sendo adotada, por que a adoção de determinado sistema operacional que não é livre, por que podem optar pelo sistema livre, por que eles podem produzir um vídeo com a estética que eles acharem bacana e não com a estética do jornal que eles veem em casa na televisão.
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É uma questão de o jovem se apropriar daquele formato, daquele conteúdo e daquela ferramenta, mas se apropriar criticamente. E o público jovem não tem somente um encanto pela tecnologia, mas uma facilidade para entender, uma facilidade de multiplicação, porque tem a ver com a sociabilidade deles.
Como, na sua opinião, se relacionam hoje a comunicação e a política?
Acho que existem alguns tracinhos nesta relação. Uma delas é a relação intrínseca entre uma comunicação democrática e uma sociedade democrática. Para a sociedade ser democrática, precisa necessariamente que haja uma comunicação democrática.
E não é isso que acontece no nosso país e em vários lugares do mundo. A comunicação é cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.
Por isso é cada vez menos democrática. Embora de interesse público, os veículos de massa têm a intenção de defender os interesses de seus donos. Acontece que esta mídia deveria ter a responsabilidade de saber que está falando para um público que não vai ter acesso a outras informações.
Hoje, quem tem os meios de comunicação tem o poder?
Existe uma conexão da política de comunicação com a política em si. É proibido pela lei que pessoas que têm concessões públicas de veículos de comunicação tenham cargos eletivos. Mas vemos milhares de políticos que detêm essas concessões.
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Essa relação as pessoas não conseguem fazer. Por exemplo, sai no jornal que o Renan Calheiros tem uma rádio em Alagoas. Mas as pessoas não conseguem entender e não têm uma informação necessária, porque a mídia não fala dela mesma, a não ser que seja para defender seus próprios interesses.
As pessoas não se dão conta de que aquele coronel mantém o seu curral eleitoral naquela região, e usa aquilo como moeda de troca política e para dar manutenção ao seu poder. Por outro lado, a população já está lendo mais criticamente do que lia há algum tempo, até porque hoje em dia a mídia faz muito mais parte da vida das pessoas.
Em tempo de eleições, aparecer na TV é muito importante. Isso não acaba determinando a política?
Não há como pensarmos numa sociedade democrática sem comunicação democrática. E hoje em dia não podemos ter uma comunicação democrática sem reformar o sistema que está aí. Tanto que o Intervozes está envolvido numa luta mais ampla pela reforma política, que é uma reforma na democracia no seu sistema representativo e que inclui uma reforma partidária.
A reforma política que foi discutida no Brasil está centrada na reforma político-partidária. Mas a discussão deixou de lado a própria mídia. Não pautou que esta reforma deveria ter sido uma reforma pensada na democracia em suas vertentes, representativa, participativa, direta e na democracia das comunicações. Sem pensar nestas quatro perninhas juntas, não vamos para lugar nenhum. Deixando brecha no sistema político-eleitoral, vamos continuar sem democracia na televisão e os partidos vão continuar fazendo alianças que não fazem sentido nenhum, ou existindo partidos que se transformam em partidos de aluguel.