Tema de Redação: Situação de fome no Brasil

Quem a sofrer, saberá. É um tormento! Quem não a experimentar nua e crua, talvez, de longe, poderá imaginar. Em todos os casos, tratemo-la como uma sensação estomacal insuportável que aflige toda estrutura constituinte de uma pessoa. O faminto é aquele sujeito que, não dispondo de comida, fica o tempo inteiro conectado mentalmente a ela.

“Ponto” é um sinal do código linguístico que indica ação. O de exclamação (!), por exemplo, pode simbolizar exaltação. Porém, fome não exalta ninguém! Antes, humilha. O ponto de interrogação (?) remete à cata de explicações. As razões por que falta pão, arroz, feijão e outros itens desta natureza no prato de uma multidão brasileiros são sabidas e, quase sempre, desconsideradas.

Não existem justificativas éticas nem econômicas para que este mal prossiga corroendo os intestinos de tanta gente. Os índices da fome estão aí e são um escândalo nacional. Pesquisas apontam que o Brasil é o segundo país com maior número de desempregados do mundo (11,454 milhões), ficando atrás apenas da Índia (cf. ZH, ed. 29/05/2002, p. 21). E sabe-se: A fome é uma das primeiras herdeiras do desemprego.

Alto lá. Um apelo está no ar. No dia de Corpus Christi (30/05), a Igreja Católica lançou o “mutirão nacional para a superação da miséria e da fome”. Trata-se de um chamamento para pôr ponto final (.) a esta epidemia social que submete cerca de 23 milhões de brasileiros à situação de indigência. É um grito que parte da consciência ética e evangélica. Um clamor pela justiça e pela cultura da solidariedade.

O sinal “@” é traduzido por “arroba”. Desde criança aprendi que arroba eram 15Kg, que pode ser de cereais, carnes, verduras, frutas… Aqui o “com” pode funcionar como abreviatura de “comida”. E precisamos abreviar o máximo o tempo da fome. Agir rapidamente e de forma organizada para dar cabo a ela. Então vem a pergunta: Mas, como acessar comida? “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13), disse Jesus. Ter comida boa, saudável e suficiente em todas as mesas é possível. Este é apenas um dos direitos sagrados de todo cidadão.

“Superar a miséria e a fome não é plano facultativo, nem projeto opcional de um governo. É exigência que decorre tanto do Evangelho, como da responsabilidade cívica”, afirma D. Demétrio Valentini. E prossegue: “Não basta matar a fome, pois ela volta, e a miséria pode até aumentar se as pessoas ficam desincumbidas de assumirem suas próprias responsabilidades”.

O cifrão “Br” vem de Brasil, que é um país que adormece com a copa na cabeça (Copa do Mundo) e ignora os problemas da cozinha. Um país onde a fome reina absoluta sobre a abundância acumulada nos porões de tão poucos. Temos abundância de comida e carência de partilha.

Com a internet aprendemos a acessar tudo pelo correio eletrônico. Só o que não conseguimos extrair destas máquinas interconectadas é comida. Esta precisa ser acessada pelos canais da política e da economia social solidária. Se estamos queremos isto, precisamos também combater a Alca, que é um projeto que visa tirar de vez o pão da boca dos que já estão morrendo na míngua da exclusão. Vamos para a ação.

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